Por Roberto Kuppê (*)
Na 15ª Reunião da Força-Tarefa dos Governadores pelo Clima e as Florestas (GCF Task Force), o Governo de Rondônia fez bonito — ao menos no palco. Com direito a fotos posadas, discursos empolgados e menções a uma tal de “nova economia florestal”, representantes estaduais esbanjaram compromisso ambiental enquanto a realidade rondoniense arde — literalmente.
Representado pela Sedam, o estado reafirmou, com veemência de PowerPoint, sua suposta dedicação ao desenvolvimento sustentável.
Segundo o governador Marcos Rocha, “a presença de Rondônia no evento facilita a tomada de decisões para solucionar os desafios ambientais”. Isso é a manifestação oficial para a imprensa. Mas a realidade é diferente.
Solucionar, no caso, parece significar liberar loteamentos dentro de reservas legais, afrouxar licenciamentos ambientais e ignorar comunidades tradicionais que vivem sob ameaça.
Enquanto isso, a floresta chora silenciosamente. Entre 2023 e 2025, Rondônia figurou entre os líderes de desmatamento da Amazônia Legal, mesmo com queda percentual pontual.
A redução, celebrada em eventos internacionais, ignora que parte significativa da devastação foi ‘congelada’ em áreas já degradadas, e que as queimadas continuam firmes na programação anual do “reality ambiental” do estado.
Em Rio Branco, autoridades falavam em economia verde e valorização de recursos naturais. Já em Porto Velho, a Assembleia Legislativa aprovava projetos que flexibilizam regras fundiárias e fragilizam áreas de proteção, incluindo medidas que até a ONU chamaria de “ousadas” — para não dizer predatórias.
O secretário Marco Antonio Lagos declarou no texto oficial da ASCOM que “a troca de experiências nos ajuda a proteger nossas florestas”.
Pena que essas experiências não pareçam ter chegado a Machadinho, Buritis ou às áreas da Resex Jaci-Paraná, onde grileiros avançam com a bênção do silêncio institucional.
A cereja do bolo verde foi a convocação da Força Nacional para conter conflitos em terras indígenas e áreas ambientalmente sensíveis — o que torna difícil saber se Rondônia está promovendo a paz ou apenas limpando o caminho para a boiada passar com mais fluidez.
Enquanto o mundo ouve promessas ecoando em auditórios climatizados, os satélites seguem registrando cicatrizes na Amazônia. No fim, a floresta continua servindo: se não mais como bem comum, ao menos como palco para discursos performáticos e narrativas de marketing verde.
(*) Roberto Kuppê é presidente da ONG Patrulha Verde