Txai Suruí passou a ser conhecida ao expor a questão do avanço da mudança climática na Amazônia, na Conferência da Cúpula do Clima (COP26). Txai nasceu dos Povos Suruí em Rondônia e tem 24 anos. Seu pai é Almir Suruí, um dos líderes da luta contra o desmatamento. Em setembro de 2024, a ativista publicou seu primeiro livro, Canção do amor, pela editora Elo. A autora também foi uma das convidadas da Festa Literária Internacional de Paraty de 2024.
“Eu acho que não fui eu que escolhi a poesia, mas ela me escolheu para iniciar na literatura. E também tive uma grande ajuda da Elo Editora, que me deu essa oportunidade de começar com um livro de poemas. Eu gosto muito de poesia, e leio porque acho que é uma forma da gente conseguir expressar aquilo que não conseguimos falar”, explica Txai sobre começar na literatura através da escrita poética.
A estreante no mundo literário conta que o título da obra surgiu da própria cultura do seu povo: “a gente canta muito. Em qualquer tipo de situação, é um momento importante. Por exemplo, eu posso fazer uma canção desse momento que eu estou vivendo aqui na Flip. Assim vamos criando as nossas histórias através de canções, que também são poesias. Eu considero o livro uma canção também. Através dos poemas, estou contando essa história de amor: minha para o meu amor. Eu digo isso no livro: que escutem a nossa canção!”
Em cada frase escrita, a mensagem passada por Suruí é que a luta dos povos indígenas é a luta de todos nós. Além disso, a autora exalta a cultura do lugar onde vive e cresceu: “a gente canta para os espíritos, para trazer alegria, e também para as florestas. Falamos também desse amor originário.”
Mostramos para eles que neste mundo/cabem tantos outros mundos./E morremos/ nas florestas amazônicas,/reflorestando e cultivando o amor e a cultura/ nos corações de todos aqueles/que ouvirem nossas canções.
Txai explica que a parte mais difícil durante a escrita da obra foi conseguir um tempo para se dedicar inteiramente ao projeto: “eu parava e pensava: ‘agora eu vou deixar minha luta de lado e vou descansar’. Mas isso não existe, porque a nossa luta é pelas nossas vidas.”
A arte ajuda a sensibilizar as pessoas. Por isso, a ativista utilizou da literatura para tocar a sociedade. “Acho que as pessoas estão precisando ser tocadas. Então, não é à toa que esta é uma canção que fala de luta, mas também fala de amor. Porque nós somos povos que lutam, mas que nunca deixam o amor e a alegria de lado. Isso que é o reflorestar das mentes e dos corações, poder alcançar esse lugar que, às vezes, é invisível aos olhos, mas é essencial para nossa vida”, finalizou Txai.
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil