PORTO VELHO (RO) – O governador de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), afirmou, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, no Azerbaijão, que o Estado passou “50 dias embaixo de fumaça de queimadas — que não é queimada, mas sim incêndio criminoso”. A declaração, em que citou a crise hídrica e descreveu o combate às queimadas no Estado, contraria as ações da administração de Rocha, segundo ambientalistas consultados pela CENARIUM.
O gestor ambiental e conselheiro da Organização Não Governamental (ONG) Kanindé, Edjales Benício, afirmou que “o governo [de Marcos Rocha] não tem nenhum compromisso com o meio ambiente e com a sustentabilidade”. O ambientalista citou uma série de ações adotadas por Rocha durante o mandato que contrariam o discurso realizado na COP29, na quarta-feira, 13.
“Ele [Marcos Rocha] já deu várias demonstrações disso, como tentativas de desafetar a reserva de Jaci Paraná e reduzir o parque de Guajará-Mirim, tentativas de legalizar o garimpo, alterações nos alinhamentos socioeconômicos e ecológicos, que afetaram áreas protegidas, a remoção do caráter deliberativo do Conselho Gestor do Fundo Clima. Todas essas ações são evidências de que o governo não prioriza a proteção ambiental”, apontou.
Outro ambientalista consultado pela reportagem, que não quis ser identificado, pontuou que o combate às queimadas foi bem-sucedido por causa da ajuda do governo federal, que intensificou ações de fiscalização na região durante o período crítico. Para ele, o Estado não teve capacidade de lidar com a crise ambiental.
“A redução das queimadas em Rondônia é fruto de esforços do governo federal, que intensificou ações de fiscalização e combate aos incêndios na Amazônia. Operações como o reforço de equipes do Ibama foram essenciais para diminuir a incidência de focos de calor e controlar as queimadas, que foram devastadoras em anos anteriores. É importante ressaltar que, sem esse apoio federal, a situação poderia ter sido muito mais grave, visto que a gestão estadual, por si só, não tem demonstrado a capacidade de lidar com essa crise ambiental” afirmou.
Críticas ao secretário
Edjales também demonstrou preocupação com o que classificou como “falta de credibilidade” do secretário de Desenvolvimento Ambiental, Marco Antônio Lagos. Para ele, o titular da pasta não tem capacidade de liderar ações de combate efetivo a desmatamento.
“É preocupante ver que o atual secretário de Meio Ambiente não possui a credibilidade necessária para conduzir políticas ambientais em Rondônia. As acusações de favorecimento em licenças ambientais e a omissão diante de atividades ilegais enfraquecem qualquer esforço de preservação que possa existir. Essa gestão não demonstra capacidade de liderar um trabalho eficaz de combate ao desmatamento, e isso deixa um legado de destruição e perda ambiental que só agrava a situação da região”, afirmou.
Medidas insuficientes
As medidas ambientais anunciadas pelo governo estadual, como programas de preservação florestal, são frequentemente criticadas por serem reativas e insuficientes. Mesmo projetos considerados positivos, como turismo sustentável e reflorestamento, são mal-executados ou sofrem com a falta de transparência e fiscalização, segundo o ambientalista.
“A comunidade internacional já expressou sua preocupação com a falta de seriedade e ação firme por parte do governo estadual. Precisamos de pessoas que estejam genuinamente comprometidas com a sustentabilidade, que tenham um histórico limpo e, acima de tudo, que sejam capazes de implementar políticas efetivas para garantir a sobrevivência da nossa floresta e o bem-estar das comunidades que dependem dela”, frisou Edjales.
Discurso na COP29
Durante a COP29, a tentativa de Rocha de apresentar Rondônia como comprometida com a sustentabilidade foi recebida com ceticismo. Um dos argumentos utilizados pelo governador na conferência é a falta de apoio e de união no combate à crise climática, mesmo após os investimentos do governo federal no combate às queimadas. Programas de regularização fundiária e educação ambiental foram destacados pelo governo como avanços.
O governador ressaltou no evento que “os incêndios foram provocados por criminosos” e que “culpar a agricultura não é a solução, mas a agricultura é parte da solução“. As afirmações também provocaram a reação dos ambientalistas, já que o governo enfrenta acusações de conivência com a grilagem e o desmatamento ilegal.
No evento, as falhas de Rondônia em assumir compromissos concretos para a proteção da Amazônia ficaram evidentes. Enquanto outros Estados buscam apoio internacional e firmam parcerias para preservar a floresta, Marcos Rocha adotou uma postura defensiva, tentando justificar as falhas da gestão.
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Fonte CENARIUM.