Senador Jaime Bagattoli ameaça a Amazônia com dinheiro do mercado de capitais

Com mandato pelo PL de Rondônia, Bagattoli assume comprar gado de desmatadores na região onde atua; animais são adquiridos pela Minerva com recursos do Certificado de Recebíveis do Agronegócio .

Nas eleições majoritárias para renovar um terço das cadeiras do Senado, em 2022, o catarinense Jaime Maximino Bagattoli, então com 61 anos, foi eleito com 289.553 votos, representando o Partido Liberal (PL) por Rondônia. Naquele ano, o conhecido empresário do agronegócio de Vilhena, “capital” do Cone Sul rondoniense, já havia recebido pagamentos do Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) da Minerva Foods pelo fornecimento de gado. No ano seguinte, nova remessa de animais: ao todo, Bagattoli recebeu R$ 25,8 milhões pagos em 15 parcelas pela segunda maior indústria de carnes brasileira, a partir de crédito via mercado de securitização.

No entanto, parte do gado enviado pelo confinamento de animais da fazenda Alvorada, do Grupo Bagattoli, tem origem do desmatamento da Amazônia, de acordo com levantamento do Centro para Análise de Crimes Climáticos (CCCA, na sigla em inglês). Investigação feita pelo Joio mostra que o senador pecuarista faz parte de uma rede maior de criação de gado em áreas desmatadas ilegalmente e financiadas com recursos da bolsa de valores.

De uma lista de 605 pecuaristas listados em um dos CRA da Minerva, o CORP Minerva VI, Bagattoli aparece em 11º no ranking dos maiores valores de destinação de recursos do título. Seu irmão Orlando Vitorio Bagattoli, sócio nos negócios agropecuários, incluindo o confinamento na Alvorada, também recebeu pagamentos da mesma fonte, no valor de R$ 4,8 milhões.

A poucos metros da asfaltada BR-364, que corta Vilhena em duas metades, fica a moderna estrutura da fazenda Alvorada Confinamento, pertencente ao Grupo Bagattoli Divisão Agro.  A fazenda funciona como um centro de recebimento de gado de dezenas de propriedades na região, com grandes estoques de silagem, funcionários uniformizados e cochos cobertos para alimentação dos animais. Dela, os irmãos Bagattoli enviaram quase seis mil animais para a unidade da Minerva no município de Rolim de Moura entre maio de 2019 e janeiro de 2022.

Bagattoli afirma vender 30 mil cabeças de gado por ano.“Eu tenho um confinamento que é modelo nesse país, mo-de-lo. Não tem 15 deste [tipo] no Brasil, vou repetir. Não tem 15 deste, até compostagem de esterco tem”, orgulha-se. A entrevista por telefone foi concedida apenas ao final de janeiro de 2025. Desde outubro, tentamos conversar com o parlamentar. Primeiro, presencialmente, em Vilhena, e depois à distância.

O senador assume não excluir fornecedores da fazenda Alvorada por desmatamento. “Se você pensar por isso aí, manda fechar os frigoríficos. Cinquenta por cento das terras de Rondônia e Mato Grosso têm algum problema ou de regularização fundiária, ou que não deram licença para desmatamento, algum problema têm”, afirmou.

“Ou você acha que a Minerva não compra deste produtor [que desmata]? Você sabe como os produtores estão vendendo lá? Ele vende para um outro produtor para este vender para a Minerva”, explica o senador, explicando de forma didática e pública como se dá a lavagem de gado na região onde atua.

Dono do posto de combustíveis Catarinense, da transportadora Giomila, dos Armazéns Kargioli Importação e Exportação, do Grupo Bagattoli Confinamento e de fazendas para a produção de grãos, administradas pelo Grupo Bagattoli Divisão Agro, o senador domina todas as fases de produção de carne a montante do frigorífico.

“Daqui saem de 65 a 70 caminhões de boi por dia, ‘puxa’ do Jaime e de terceirizados”, disse o encarregado da frota no pátio do complexo Bagattoli. Diretamente, 3.984 pessoas físicas foram responsáveis pela compra de 25% do total de unidades mobiliárias do CRA da Minerva, o que significa que aplicaram o valor mínimo de R$ 1 mil cada uma na compra dos títulos.

No encerramento da oferta, em outubro de 2023, a Minerva bateu a meta de levantar R$ 2 bilhões em recursos no mercado de capitais.

Tipos de investidores do CRA Minerva VI

Por quantidade de CRAs subscritos e integralizados, pessoas físicas são responsáveis por mais de 25% da compra de títulos

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Indiretamente, milhares de investidores do tipo pessoa física e jurídica também aplicam recursos nos CRA da Minerva por meio dos Fundos de Investimento das Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Segundo levantamento exclusivo do Joio, ao menos 11 Fiagro compraram ativos da empresa para compor seus portfólios. Sete deles apostaram no CRA da Minerva, que pagou fornecedores da rede de desmatamento em Rondônia.

São eles os Fiagro AZ Quest Sole, AZ Quest Luna, Inter Amerra, Sparta Fiagro Imobiliário, BB FI Crédito Fiagro Imobiliário, Vectis Datagro Crédito Agronegócio, e o Kinea Crédito Agro, este último do grupo Itaú. Além de prover para a Minerva, a fazenda Alvorada abasteceu a JBS com ao menos 40 mil animais entre outubro de 2018 e janeiro de 2022, segundo levantamento do CCCA. A empresa é líder no processamento de carnes no mundo e cliente assídua do mercado de capitais.

Fonte: Joio e O Trigo

 

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