Mudanças climáticas vêm intensificando os microbursts, como são chamados os ventos extremos, que causam a morte das árvores gigantes da Amazônia. É o que afirma o estudo “Estrutura florestal e recuperação de biomassa a partir de derrapagens eólicas na Amazônia Noroeste”, publicado na renomada revista American Geophysical Union (AGU). No período entre 1985 e 2020, ou seja, em 35 anos, esses eventos quadruplicaram, revela a pesquisa. Eles têm o poder de destruir árvores que levaram, em média, 400 anos para se desenvolver e que são centrais para o combate às mudanças climáticas.
O microburst, também conhecido como microexplosão, tem início a partir de uma nuvem cumulonimbus. Esse tipo de nuvem se caracteriza por um grande desenvolvimento vertical. Dessa nuvem se desprende uma corrente de ar descendente, que cai violentamente de cima para baixo, concentrada em apenas um pequeno trecho da nuvem.
Autor do estudo, que foi desenvolvido na Universidade Friedrich Schiller Jena, o pesquisador David Urquiza falou com exclusividade a Ecoa direto de Bonn, cidade à oeste da Alemanha. Ele nos conta que a maior ocorrência de queda de árvores por ventos extremos foi registrada na Amazônia Central e Ocidental, que envolve os estados da região Norte do Brasil.
Urquiza, que é afiliado ao Instituto Max Planck de Biogeoquímica e à Universidad Nacional de la Amazonia Peruana, explica que as quedas são detectadas através da análise do Landsat, um programa que captura imagens da superfície terrestre, permitindo a observação de mudanças no meio ambiente. Esse programa foi desenvolvido em parceria pela Nasa e o Serviço Geológico dos Estados Unidos. “Nessas imagens, podemos detectar os pixels que foram afetados. Um pixel tem um tamanho de 30 x 30 metros, ou 0,09 hectares [que corresponde a 900 m²] “, explica o pesquisador.
Segundo ele, em cada pixel ou 900 m² podem ser encontradas até oito árvores gigantes caídas. As quedas dessas plantas trazem um impacto relevante para o equilíbrio da floresta, pois “criam um mosaico de nichos na paisagem, desencadeando a sucessão secundária e controlando a diversidade e a dinâmica da floresta. Elas produzem mudanças significativas na estrutura, composição e funcionamento do ecossistema”, explica Urquiza.
Impacto ambiental
A perda de uma árvore gigante causa imensos estragos ao meio ambiente. Por serem centenárias, muitas têm entre 200 e 300 anos, elas estocam uma grande quantidade de carbono. Com a sua morte, esse carbono é lançado de volta à atmosfera, desequilibrando a conta de captura versus emissões de carbono. Apesar de representarem apenas 1% das árvores do ecossistema amazônico, essas gigantes são responsáveis por 50% do estoque e fluxo desse gás.
Gisele Biem, pesquisadora de pós – doutorado pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), investiga a morte das árvores gigantes no Projeto Gigante. Ela explica que as árvores gigantes, que alcançam o dossel, ou seja, a copa da floresta, facilitam a sobrevivência das espécies mais tolerantes à sombra. “[Elas] Também são importantes para os ciclos de nutrientes e da água nos ecossistemas, sendo capazes de explorar mais recursos tanto acima como abaixo do solo”, complementa Biem.
Na prática, as árvores altas têm papel essencial também na manutenção do ecossistema, servindo de alimento para plantas, a exemplo de epífitas, tipo de planta que vive sobre a outra, e lianas, as conhecidas trepadeiras, que estão enraizadas no solo, mas precisam de outra planta como suporte para manterem-se eretas e crescerem na direção da luz.E servem também para alimentar animais, como as aves. Atualmente, na Amazônia, as maiores árvores encontradas são as Dinizia excelsa, da família Fabaceae, popularmente chamada de Angelim Vermelho, encontradas no Parque do Tumucumaque, no Amapá.
Elas têm, em média, entre 60 e 80 metros. Apenas no Amapá as árvores alcançam esse tamanho – nas demais partes da Amazônia brasileira, elas chegam até 40 metros.
“Nós sabemos muito pouco sobre as árvores gigantes, quais as espécies, distribuição e variação de tamanho nos trópicos. Elas são pouco estudadas pois são muito raras na paisagem”, explica Biem.
Fonte: UOL